sexta-feira, 7 de março de 2014

CINZAS





... finalmente ela encontrou o cão, sangrando, morto, jogado no meio-fio, na rua.
Atropelados.
Perdeu a noção, a noção do tempo que ficou agarrada nele.Não podia fazer mais nada, nada.
Estavam mortos.
Subiu, caminhando até o Mirante e sua Floresta Sagrada.
Contraditoriamente, à medida que subia e deixava a cidade para trás, o peso dos dois corpos diminuía.
Sentiu o frescor de talo verde, água geladinha de cachoeira, pedra lisa, flor com cheiro de mel.
Sentou e ficou bem ali, tempão.
Não quis enterrar. Terra era pouco.
Não queria lugar certo para lembrar do corpo. Melhor o fogo que consome , dá logo um fim no que já não é isto.
Deixou o vento levar as cinzas.
O mar, o sal, deu o rumo no que restou. 
Uma Onda Grande bateu nas pedras, levantou água e lavou seu corpo, sua alma.
Ela estremeceu e chorou, chorou, como fosse seu primeiro banho.
Agora, só a ternura de vê-lo em nuvens, dissolvê-lo em nuvens.



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