quinta-feira, 3 de abril de 2014

PARA DAR UM TEMPO, NAS PALAVRAS.



Começou a trovejar e logo desabou como um raio, chuva de verão, choro.
Muito ar e pouca terra.
Cadê o cheiro,a pele?
Pirou.
Correu até ao Arpoador.
Porquê a faca no peito?
Tinha que dar um tempo, nas palavras. 
Lembrou a primeira vez que se refugiou ali, ainda menina, a escola pertinho.
O limite.
A inconsciência.
-O que é que tá acontecendo?
A mesma necessidade de aterrar e os olhos lá, no mar.
A cadência das ondas nas pedras, soava como mantra.
Foi acalmando. 
Tinha que dar um tempo, nas palavras, a faca, o corte.
Nada mais existia do ontem e do depois. Naquele momento estava inteira, ali.
Presença.
É bom que seja assim.
arpou a dor ?
Agora, no palco do Arpoador, o espetáculo de magia era o amanhecer. Ser.
Caminhou até à feira e providenciou o que precisava para o almoço.
Ratatouille, Risoto ao funghi, muitas flores, alegria.
Cozinhou com prazer.
Gostava daquela toalha branca com os guardanapos floridos, a mesa posta, o vaso de flores,os farelos de pão,as manchas de uva, saborear a comida, a conversa,as brincadeiras, o sono depois.
Alquimia feita.
O almoço, o dia, tudo encantador, acompanhado da música que chega sorrindo,
pela porta.


Nenhum comentário: